Hemocromatose: quando o excesso de ferro vira um problema de saúde

Hemocromatose: quando o excesso de ferro vira um problema de saúde

Discreta no início e muitas vezes confundida com outras condições, a hemocromatose pode permanecer silenciosa por anos antes de causar danos significativos à saúde. O nome da doença remete a um dos sinais clínicos observados em estágios avançados: a coloração bronzeada da pele, causada pelo acúmulo excessivo de ferro no corpo. 

 O que é hemocromatose

A hemocromase é uma doença genética caracterizada pelo acúmulo excessivo de ferro no organismo. Sendo assim, em vez de manter níveis normais do mineral no sangue (entre 40 e 160 microgramas), o corpo da pessoa com hemocromatose absorve mais ferro do que o necessário. Como resultado, o excesso pode se depositar em órgãos como fígado, coração,pâncreas, glândula pituitária e articulações levando a complicações se não for diagnosticado e tratado adequadamente.

Hemocromatose hereditária: causas e particularidades

A hemocromatose hereditária acontece devido a uma alteração no gene HFE (abreviatura do inglês, HOMEOSTATIC IRON REGULATOR), responsável por controlar o equilíbrio de ferro no organismo. Com o tempo, em pessoas com essa mutação, esse ferro extra se acumula em órgãos importantes, podendo causar doenças como diabetes, problemas hormonais e danos ao fígado.  

Os sintomas geralmente aparecem depois dos 40 anos, principalmente em pessoas que herdam duas cópias da mutação conhecida como C282Y – uma de cada um dos pais. 
 
É importante ressaltar que, embora a hemocromatose hereditária seja a mais comum, ela não é a única. Existe também uma outra forma, conhecida como hemocromatose secundária, que geralmente ocorre em pessoas com anemias hemolíticas ou que precisam de transfusões de sangue frequentes. 

Hemocromatose hereditária tipo 1: o subtipo mais comum

Conhecida como hemocromatose clássica ou relacionada ao gene HFE, é responsável por mais de 80% dos casos diagnosticados. Por isso, é a forma mais comum da doença.  

A hemocromatose hereditária tipo 1 costuma atingir principalmente pessoas de origem europeia, especialmente do norte da Europa, onde cerca de 1 em cada 200 indivíduos carrega a mutação genética nas duas cópias do gene (uma de cada um dos pais). Ainda assim, por ser o tipo mais comum e poder causar complicações sérias, é importante ficar atento, especialmente quem tem histórico familiar ou origem europeia.  

Hemocromatose sintomas: sinais de alerta

Geralmente a hemocromatose é assintomática, sendo mais frequentemente descoberta em exames de rotina, onde pode ocorrer aumento das enzimas hepáticas e da ferritina. Os sinais clínicos, quando ocorrem, são fraqueza e cansaço persistente. Mas também podem surgir dores e rigidez nas articulações, especialmente nas mãos, além de perda de libido. 

Com o avanço da doença, podem ocorrer aumento do fígado, dores abdominais e até mesmo o desenvolvimento de diabetes. Em estágios mais avançados, uma mudança na coloração da pele (que pode se tornar mais escura ou bronzeada) também pode ser observada.

Hemocromatose diagnóstico: como identificar

Geralmente, a suspeita do diagnóstico se inicia com sintomas relatados pelo paciente, como cansaço excessivo ou dores articulares. Já nos exames laboratoriais de rotina, um dos primeiros sinais pode ser a elevação das transaminases hepáticas (AST e ALT), ferritina e saturação de transferrina, que indica excesso de ferro circulante. Diante desses indícios, o passo seguinte é a realização de um teste genético para identificar mutações no gene HFE

Hemocromatose tratamento: opções e controle

A principal opção de tratamento é a flebotomia, também conhecida como sangria terapêutica. No procedimento, uma pequena quantidade de sangue é retirada regularmente e depois descartada para diminuir os níveis de ferro.  

Em casos específicos, quando a flebotomia não é indicada ou suficiente, podem ser prescritos medicamentos que ajudam o corpo a eliminar o mineral em excesso, como os quelantes de ferro. 

Procedimento médico para hemocromatose: abordagens especializadas

Além da flebotomia, o acompanhamento médico da hemocromatose envolve exames de sangue regulares e, quando necessário, ressonância magnética para monitorar o acúmulo de ferro nos órgãos.  

A alimentação também faz parte do controle da doença. Sendo assim, recomenda-se moderar o consumo de carne vermelha (principal fonte de ferro na dieta), mas sem a necessidade de eliminá-la completamente. 
 
Após o diagnóstico é importante reforçar a vacinação para hepatite A e B em pacientes não vacinados.  
 
Outro ponto de atenção para quem tem altos índices de ferro no sangue é evitar o consumo de peixes e frutos do mar crus, como ostras, pois podem conter bactérias como Vibrio e Yersinia, que representam risco maior para quem apresenta altos níveis de ferro no sangue. 

 
É fundamental manter atividade física regular e alimentação balanceada, a fim de evitar ganho excessivo de peso, já que a obesidade pode contribuir para a piora do funcionamento do fígado.

Fonte: Dra. Ana Claudia Carramaschi Villela Soares -Hematologista