Espectro autista (TEA): o que é, sintomas e níveis de suporte
O espectro do autismo é uma condição que afeta a forma como as pessoas interagem, se comportam e se comunicam com o mundo. Como os sinais e sintomas podem ser muito diversos, essa variedade levou ao termo “espectro”.
De acordo com relatório recente do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), aproximadamente 1 em cada 31 crianças de oito anos nos Estados Unidos foi identificada com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
Quanto mais falarmos e discutirmos sobre o tema, melhor.
Isso porque a conscientização possibilita a identificação precoce do TEA, o que permite intervenções para estimular o desenvolvimento e para melhorar a qualidade de vida da pessoa com autismo e de suas famílias.
O que é espectro autista?
O Transtorno do Espectro do Autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que impacta principalmente como a pessoa se comunica, se comporta, interage com os outros e vivencia o mundo ao seu redor.
Nota-se padrões comportamentais repetitivos e restritivos, variando em termos de características e níveis de suporte necessários.
O TEA não é uma doença. É uma condição que muda a maneira como uma pessoa se conecta com os outros, e que acompanha essa pessoa por toda a vida.
A condição tem diferentes manifestações e, por isso, é chamada de “espectro”. Pessoas com TEA podem, por exemplo, usar a linguagem de maneira particular ou até mesmo não a usar.
A sensopercepção pode ser diferente, o que significa que elas podem processar estímulos de forma única.
Comportamentos restritos ou repetitivos e dificuldade para desenvolver relacionamentos são comuns.
Sintomas do espectro do autismo
Os sinais do Transtorno do Espectro do Autismo podem variar muito de pessoa para pessoa e costumam se manifestar nos primeiros anos de vida, geralmente antes dos três anos de idade.
Pais e cuidadores devem estar atentos aos marcos do desenvolvimento e a comportamentos que podem indicar a necessidade de uma avaliação profissional. Alguns dos sinais mais comuns são:
Dificuldades na comunicação e interação social
- Pouco ou nenhum contato visual.
- Dificuldade em reconhecer e compreender expressões faciais e emoções em outras pessoas.
- Atraso na fala ou ausência de desenvolvimento da linguagem verbal.
- Uso literal da linguagem, com dificuldade em entender ironias, metáforas ou nuances sociais.
- Dificuldade em iniciar, manter ou entender relacionamentos sociais.
- Preferência por brincar sozinho ou dificuldade em compartilhar interesses e brincadeiras com outras crianças.
- Dificuldade em participar de conversas ou em seguir o fluxo de uma interação social.
Padrões de comportamento restritos e repetitivos
- Movimentos corporais repetitivos, como balançar o corpo, as mãos (flapping) ou girar objetos.
- Interesses intensos e focados em temas específicos, às vezes de forma obsessiva.
- Apego excessivo a rotinas e rituais, com grande desconforto diante de mudanças.
- Sensibilidade sensorial atípica: pode haver hipersensibilidade (reação exagerada) ou hipossensibilidade (baixa reação) a sons, luzes, texturas, cheiros ou sabores.
- Brincar de forma repetitiva ou pouco usual com brinquedos. Por exemplo: enfileirar objetos em vez de usá-los para o fim a que se destinam.
É preciso esclarecer que a presença de um ou alguns desses sinais isoladamente não confirma o diagnóstico de autismo.
Mas, se você observar um conjunto dessas características ou tiver preocupações sobre o desenvolvimento de uma criança, busque a orientação de um profissional de saúde.
Quais os graus do espectro autista?
Embora ainda seja comum ouvir expressões como “grau de autismo leve, moderado ou severo”, esses termos vêm sendo substituídos por uma forma mais atual de entender o espectro do autismo.
Hoje, utiliza-se o conceito de níveis de suporte, que indicam o quanto cada pessoa precisa de apoio em diferentes áreas da vida.
Essa mudança ajuda a evitar rótulos e reconhece que cada pessoa com autismo é única, com necessidades específicas que podem variar ao longo do tempo.
Os chamados “graus de autismo 1, 2 ou 3” ainda são usados por alguns profissionais e famílias como uma forma simplificada de explicar e entender o diagnóstico.
No entanto, essas expressões vêm sendo questionadas e substituídas por especialistas e ativistas, justamente por não refletirem a diversidade do espectro.
O Transtorno do Espectro do Autismo é caracterizado por uma variedade de manifestações e o Nível de Suporte é baseado na necessidade de apoio que cada pessoa precisa para o exercício de suas funcionalidades e habilidades cotidianas.
Essa classificação leva em conta aspectos como as dificuldades na comunicação social, a presença de comportamentos restritos e repetitivos, além de possíveis comorbidades, como a deficiência intelectual.
Dessa forma, o diagnóstico do autismo é estabelecido com base na presença de sinais e sintomas e na quantidade de suporte necessário para cada indivíduo, o que permite uma abordagem mais personalizada e eficaz no acompanhamento clínico.
Nível 1
Pessoas com autismo no nível 1 de suporte precisam de apoio, mas a necessidade é menos intensa. Elas enfrentam desafios na interação social, principalmente com dificuldades para interpretar sinais sociais e entender nuances da comunicação não verbal.
Podem apresentar comportamentos restritivos, com dificuldades de adaptar-se a mudanças e organizar suas rotinas, o que impacta sua autonomia em comparação com o esperado para sua faixa.
O mascaramento de seus sinais e sintomas não é incomum, o que pode levar a dificuldades no acesso aos cuidados de que precisam e ao atraso no diagnóstico.
Nível 2
Neste nível, as pessoas com TEA precisam de suporte substancial. Há um déficit mais acentuado na comunicação social verbal e não verbal, mesmo com suporte.
Costumam apresentar habilidades sociais mais limitadas, com dificuldade em começar ou manter interações sociais e os comportamentos repetitivos são mais frequentes.
Pessoas autistas no Nível 2 de suporte tendem a apresentar interesses mais restritos e comportamentos repetitivos mais evidentes. A autorregulação é mais difícil, e há dificuldade em controlar essas manifestações em contextos sociais.
Além disso, dentro dos critérios diagnósticos, pode haver ou não a presença de deficiência intelectual, assim como prejuízos na linguagem funcional.
Nível 3
O autismo de Nível 3 é caracterizado por necessidades de suporte muito substanciais, especialmente em comunicação, autorregulação e comportamento.
Pessoas nesse nível geralmente não conseguem mascarar suas características e enfrentam grandes desafios para lidar com mudanças, interagir socialmente e realizar atividades cotidianas.
A comunicação pode ser extremamente limitada, sendo comum a necessidade de recursos de comunicação aumentativa e alternativa (CAA).
As interações, quando ocorrem, tendem a ser restritas e pouco compreendidas, o que pode aumentar a vulnerabilidade a exclusão, negligência e abuso.
Vale mencionar que essa classificação é uma ferramenta para orientar as intervenções e o planejamento de suportes, e não uma forma de rotular ou limitar o potencial de uma pessoa.
Como é feito o diagnóstico do espectro autista?
O diagnóstico do Transtorno do Espectro do Autismo é essencialmente clínico. Não existem, até o momento, exames de sangue específicos ou exames de imagem cerebrais que possam, por si só, confirmar a condição.
O processo diagnóstico é abrangente e, em geral, passa pela observação clínica e pela conversa.
- Observação clínica: profissionais especializados observam o comportamento da pessoa em diferentes contextos, com atenção especial às habilidades de comunicação, interação social e à presença de comportamentos restritivos e repetitivos.
- Entrevistas com pais ou responsáveis (no caso de crianças): para coletar informações sobre o histórico de desenvolvimento da criança desde os primeiros anos de vida. São investigados marcos do desenvolvimento motor, da linguagem, socialização e quaisquer comportamentos atípicos observados.
- Entrevista com o próprio indivíduo (no caso de adolescentes e adultos): Quando possível, o próprio indivíduo é estimulado a falar sobre suas experiências, desafios, interesses e percepções.
Além disso, várias escalas e questionários padronizados podem ser utilizados como ferramentas de apoio. Eles ajudam a rastrear e quantificar comportamentos e características associados ao TEA.
Idealmente, o diagnóstico é feito por uma equipe multidisciplinar, que pode incluir médicos (como pediatras, neurologistas ou psiquiatras), psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, entre outros.
O diagnóstico precoce é fundamental. Ele permite que intervenções e suportes adequados sejam feitos o mais cedo possível. E isso pode impactar de forma muito positiva no desenvolvimento e na qualidade de vida destas pessoas.
Qual o tratamento para o transtorno do espectro do autismo?
O tratamento para o transtorno do espectro do autismo tem o objetivo claro de ajudar a pessoa a desenvolver habilidades, superar desafios e melhorar sua qualidade de vida.
Não existe uma cura para o autismo, mas as intervenções são importantes e devem começar o mais cedo possível.
Para isso, é muito importante contar com uma equipe de profissionais de diferentes áreas, como médicos neuropediatras, psiquiatras, psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, entre outros. Eles trabalham juntos para apoiar o crescimento e a autonomia da pessoa.
Além disso, a participação da família é essencial. Os familiares também precisam de orientação para entender melhor o autismo, lidar com comportamentos difíceis no dia a dia e cuidar de si mesmos, o que é fundamental para o bem-estar de todos.
Em 2020, o projeto The National Clearinghouse on Autism Evidence and Practice (NCAEP) atualizou uma revisão sistemática da literatura científica sobre intervenções voltadas ao Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
O relatório resultante identificou 28 práticas baseadas em evidências que demonstram benefícios no desenvolvimento de pessoas com TEA. A maioria dessas práticas é fundamentada nos princípios da Análise do Comportamento Aplicada (ABA).
Conheça algumas das terapias:
- Terapia ABA ou Terapia Comportamental: as terapias baseadas na ciência ABA demonstram ter evidência científica de resultados positivos no acompanhamento de pessoas com TEA. É uma das intervenções que mais ajuda a desenvolver novas habilidades, reduz comportamentos desafiadores e melhora a comunicação e a interação social. Dentro de uma equipe multidisciplinar, a formação em ABA não se restringe apenas aos psicólogos. No entanto, é fundamental que as famílias tenham cuidado ao escolher os profissionais e as clínicas responsáveis pelas intervenções.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): é uma abordagem que auxilia a pessoa a entender como seus pensamentos e crenças influenciam seus sentimentos e comportamentos. Na TCC, a pessoa aprende a observar o que está pensando e sentindo, e depois usa estratégias práticas, passo a passo, para mudar esses pensamentos e comportamentos, desenvolvendo mais consciência sobre si mesma.
- Integração Sensorial: trabalha a capacidade da pessoa de organizar e dar sentido às informações sensoriais — como sons, imagens, toques, movimentos e equilíbrio. Utiliza atividades personalizadas que estimulam os sentidos, o movimento e a coordenação, ajudando a pessoa a se organizar melhor no tempo e no espaço. É realizada por Terapeutas Ocupacionais treinados e ocorre principalmente em contextos clínicos.
- Intervenção Implementada por Pais: os profissionais ensinam os pais a aplicarem estratégias de intervenção com seus filhos, ajudando no desenvolvimento de habilidades como comunicação, brincadeiras, autocuidado e interação social, além de lidar com comportamentos desafiadores.
Saiba mais sobre as intervenções realizadas pelos profissionais da psicologia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e fisioterapia:
- Psicologia: desempenha um papel fundamental no acompanhamento de pessoas com TEA e seus familiares. Psicólogos utilizam diversas abordagens terapêuticas, como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), dentre outras para desenvolver habilidades comportamentais, sociais, emocionais e cognitivas em pessoas com TEA, além de auxiliar na gestão de desafios e na promoção da qualidade de vida.
- Fonoaudiologia: foca no desenvolvimento da linguagem. Trabalha a comunicação verbal e não verbal, ajudando na compreensão e expressão. Trabalha também com a prática baseada em evidências chamada Comunicação Alternativa e Aumentativa.
- Terapia ocupacional: ajuda na integração sensorial. Desenvolve habilidades para atividades diárias. E isso inclui alimentação, vestuário e higiene.
- Fisioterapia: auxilia no desenvolvimento das habilidades motoras de pessoas com autismo, especialmente na coordenação motora fina e grossa, que são importantes para atividades do dia a dia, como escrever, correr ou se equilibrar.
Os medicamentos podem ser usados para controlar sintomas associados. Por exemplo: ansiedade, hiperatividade ou problemas de sono. A decisão de usá-los deve ser médica.
Fonte: Fabiane Minozzo – Psicóloga