Entenda a DPOC: uma das principais causas de morte no mundo
A DPOC, sigla para doença pulmonar obstrutiva crônica, é uma condição respiratória grave e progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a DPOC é atualmente a terceira maior causa de mortes no mundo, sendo responsável por um impacto significativo na qualidade de vida e na saúde pública. Mais de 80% dessas mortes ocorrem em países de renda média e baixa, onde as estratégias de prevenção da doença são menos efetivas e o acesso a tratamentos adequados é mais limitado ou inexistente.
DPOC: o que é?
A DPOC tem duas apresentações clínicas principais, que são a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. É caracterizada por um estreitamento permanente das vias respiratórias e lesões das estruturas mais profundas dos pulmões, o que resulta em uma perda progressiva da função ou capacidade pulmonar.
Trata-se de uma doença irreversível e de evolução gradual, que pode causar sérios impactos à saúde, se não for devidamente tratada.
Classificações da DPOC
A DPOC é classificada em quatro níveis de gravidade, dependendo de como os pulmões estão funcionando, o que é avaliado por um teste chamado espirometria. A seguir, explicamos cada um dos estádios:
- DPOC leve: nesse estádio, muitas pessoas não percebem que têm a doença. Elas podem ter tosse ou produzir um pouco de muco, mas não sentem grandes dificuldades para respirar.
- DPOC moderada: a respiração começa a ficar mais difícil, especialmente durante atividades físicas, como subir escadas ou caminhar rápido. A tosse pode ser mais frequente.
- DPOC grave: a falta de ar se torna mais intensa, mesmo em atividades simples do dia a dia, como tomar banho ou se vestir. Isso afeta bastante a qualidade de vida.
- DPOC muito grave: respirar se torna extremamente difícil, até mesmo em repouso. Muitas vezes, a pessoa precisa usar oxigênio para manter os níveis de oxigenação no sangue.
O que causa a DPOC?
A principal causa da DPOC é o tabagismo, que está diretamente relacionado a 80%-90% dos casos. Além disso, a exposição prolongada a substâncias nocivas do ambiente, como a fumaça do cigarro, do fogão à lenha e das queimadas, bem como o contato com vapores químicos, também contribui significativamente para o desenvolvimento da doença. Os cigarros eletrônicos também são nocivos à saúde respiratória, e são potenciais candidatos, no futuro, a se somar a lista de causas de DPOC.
Sintomas da DPOC
A DPOC, sendo uma doença progressiva, pode inicialmente ser assintomática, mas com o tempo os sintomas se tornam mais evidentes. A dificuldade para respirar é um dos primeiros sinais, surgindo inicialmente durante esforços físicos, como subir escadas, podendo evoluir para falta de ar a mínimos esforços e até mesmo para falar, nas fases mais avançadas da doença. A tosse persistente, acompanhada ou não de secreção, é outro sintoma comum, assim como chiado no peito.
Muitos pacientes relatam cansaço frequente, fadiga e aumento da produção de muco, especialmente pela manhã. Nos casos mais avançados, pode haver evidências de hipoxemia (baixa oxigenação do sangue), o que pode exigir o uso de oxigênio suplementar.
Quando procurar por um médico?
É importante procurar um médico ao perceber sintomas como falta de ar frequente, especialmente durante atividades físicas ou mesmo em repouso, tosse persistente com ou sem produção de muco, chiados no peito ou cansaço excessivo sem causa aparente. Esses sinais podem indicar problemas respiratórios, incluindo a DPOC, que requer diagnóstico e tratamento precoce para evitar complicações, como a pneumonia.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da DPOC é feito com base em uma análise abrangente. Primeiramente, o médico avalia o histórico de saúde do paciente, considerando se já foi fumante ou esteve exposto à fumaça de cigarro e outros poluentes.
Em seguida, realiza um exame físico, escutando os pulmões com um estetoscópio para identificar chiados ou outros sinais de problemas respiratórios (que podem estar ou não presentes). Muitas vezes, a ausculta dos pulmões pode ser normal.
O principal exame para confirmar a DPOC é a espirometria, que mede a capacidade pulmonar e o fluxo de ar dos pulmões. Nas pessoas com DPOC, ocorre uma progressiva perda da capacidade de esvaziamento pulmonar por redução dos fluxos pulmonares, por conta do enfisema e/ou da bronquite crônica.
Além disso, exames de imagem, como radiografias e tomografias do tórax, podem ser solicitados para corroborar o diagnóstico e excluir outras doenças pulmonares, como a asma, que pode apresentar sintomas semelhantes. Por isso, é fundamental que o diagnóstico seja feito por um médico pneumologista, garantindo precisão e tratamento adequado.
Como prevenir a DPOC?
Para prevenir a DPOC, é essencial parar de fumar, já que o tabagismo é a principal causa da doença. Além disso, são fundamentais evitar a exposição a outros poluentes, usar equipamentos de proteção em ambientes de risco, manter uma rotina saudável com exercícios e boa alimentação.
Consultas regulares ao médico ajudam na detecção precoce de problemas pulmonares. Para quem tem asma, controlar a condição específica também é importante para preservar a saúde dos pulmões e reduzir o risco de desenvolver DPOC.
Como os idosos, todas as pessoas com DPOC devem manter o calendário das vacinas em dia para prevenir infecções respiratórias graves. As principais recomendações incluem a vacina contra a gripe (influenza), a vacina contra a Covid-19, as vacinas pneumocócicas (como a conjugada 13-valente, a conjugada 15-valente e a polissacarídica 23-valente) e a vacina contra o vírus sincicial (VSR), disponível para aplicação em pessoas a partir de 60 anos. A imunização adequada ajuda a reduzir complicações graves e melhorar a qualidade de vida desses pacientes.
Por também estar associado ao tabagismo, o risco de câncer de pulmão é alto em indivíduos com DPOC, e essa condição deve ser monitorada e investigada mediante qualquer sintoma suspeito.
Formas de tratamento
O tratamento da DPOC visa principalmente aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida do paciente. Para isso, podem ser utilizados medicamentos como broncodilatadores de curta e longa duração, corticoides inalatórios, anti-inflamatórios e, em alguns casos, antibióticos, de acordo com a prescrição médica. Parar de fumar é a principal medida para desacelerar a progressão da doença.
Além da medicação, a reabilitação pulmonar, que inclui fisioterapia específica, desempenha um papel essencial no tratamento. Em situações mais graves, pode ser a oxigenoterapia domiciliar prolongada e contínua, que ajuda a corrigir a baixa oxigenação no sangue e melhora a resistência aos exercícios físicos. Em casos específicos, cirurgias podem ser indicada.
Parar de fumar é indispensável para os pacientes fumantes. A prática de atividades físicas, sempre que possível e com orientação médica, também é recomendada.
Autora: Dra. Sílvia Carla Sousa Rodrigues, médica pneumologista