Demência: o que é, tipos, causas e tratamento

Demência: o que é, tipos, causas e tratamento

Atualmente, mais de 55 milhões de pessoas no mundo vivem com demência, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 1,8 milhão de pessoas são afetadas. O número global pode chegar a 150 milhões até 2050, conforme projeções. A condição afeta principalmente os idosos, mas não exclusivamente. Até 9% dos casos têm início antes dos 65 anos, segundo a OMS. 

Há uma perspectiva promissora: mais da metade dos casos de demência na América Latina são evitáveis por meio de mudanças no estilo de vida e tratamentos médicos adequados. Além disso, contamos hoje com novos tratamentos e tecnologias de diagnóstico que permitem identificar a doença precocemente, o que é fundamental para retardar sua progressão.

O que é demência?

Demência não é uma doença específica, mas sim um termo geral usado para descrever um conjunto de sintomas. Esses sintomas são causados por diferentes doenças e lesões que afetam o cérebro. A principal característica da demência é a perda progressiva das funções cerebrais, que inclui memória, raciocínio, linguagem, capacidade de realizar as tarefas do dia a dia, podendo incluir também alterações de comportamento. 

Essa perda de funções cerebrais representa um declínio significativo em relação ao estado anterior da pessoa. Com o tempo, o quadro se agrava, interferindo na independência e na qualidade de vida do indivíduo. 

A forma mais comum de demência é a Doença de Alzheimer, que responde por 60% a 70% de todos os casos, segundo a OMS.

O que causa demência?

A demência é causada por uma variedade de processos que afetam o cérebro. A forma mais comum de demência é provocada por um processo degenerativo e progressivo, no qual as células cerebrais (neurônios) morrem em regiões importantes para as funções cognitivas. No caso específico do Alzheimer, tipo mais comum de demência, a idade é um dos principais fatores de risco. 

Além das neurodegenerativas, existem outras causas que podem levar ao quadro demencial, como doenças que afetam o coração (hipertensão, diabetes e colesterol alto), vasculares, infecciosas (como HIV e sífilis não tratados), metabólicas, traumáticas, entre outras.  
 
De acordo com uma pesquisa liderada pela USP, 54% dos casos de demência na América Latina são atribuíveis a 12 fatores de risco modificáveis. O estudo foi publicado na revista científica The Lancet Public Health

Segundo o estudo, entre os principais fatores de risco estão a obesidade, o sedentarismo e a depressão. Outros fatores incluem baixa escolaridade, perda auditiva, hipertensão, tabagismo, isolamento social, diabetes, consumo excessivo de álcool, poluição do ar e lesões cerebrais traumáticas.

Existem também fatores genéticos, mas esses casos são mais raros e geralmente têm início mais precoce e evolução mais rápida. Ter um parente de primeiro grau com a doença também aumenta o risco de desenvolvê-la.

Quais são os tipos de demência?

Existem diversos tipos de demência, cada um com suas causas e manifestações. Confira a seguir alguns dos mais comuns: 

Demência de Alzheimer

A Doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa progressiva que pode comprometer a memória, o pensamento e o comportamento. É a forma mais comum de demência, afetando principalmente pessoas com mais de 65 anos.

Os sintomas iniciais são esquecimentos frequentes e dificuldade em lembrar informações recentes. Com o avanço da doença, o paciente pode apresentar desorientação, alterações de humor e comportamento, confusão sobre eventos, tempo e lugar. E ainda pode apresentar dificuldades na fala, deglutição e locomoção.  

A progressão leva à perda da capacidade de realizar tarefas cotidianas, e o paciente frequentemente passa a depender de cuidados constantes. 

Demência frontotemporal

A Demência frontotemporal é uma doença degenerativa que afeta principalmente os lobos frontal e temporal do cérebro, áreas responsáveis pelo comportamento e pela personalidade. Por isso, as alterações comportamentais são os sinais mais marcantes. 

Essa condição costuma afetar pessoas mais jovens, geralmente por volta dos 50 ou 60 anos. Embora não tenha cura, o tratamento visa principalmente aliviar os sintomas e melhorar a qualidade de vida, ajudando o paciente a lidar com as dificuldades relacionadas ao comportamento e à interação social.

Demência senil

O termo “demência senil” é considerado ultrapassado pela comunidade médica, mas foi utilizado no passado para se referir a qualquer quadro de demência que acometesse pessoas idosas. Hoje, especifica-se o tipo exato de demência (como Doença de Alzheimer, Demência Vascular, etc.), uma vez que o tratamento e o prognóstico variam significativamente de acordo com o tipo.

Demência vascular

A Demência vascular é causada por problemas no fornecimento de sangue para o cérebro, sendo a causa mais comum os múltiplos e sucessivos infartos cerebrais, conhecidos como acidente vascular cerebral (AVC). 

Em alguns casos, a pessoa pode sofrer pequenas isquemias que passam despercebidas, mas que vão se somando ao longo do tempo. Em outros casos, eventos maiores, como um AVC, deixam sequelas evidentes, como paralisia de um lado do corpo. Com isso, ocorre um declínio das capacidades cognitivas do paciente.

Demência do pugilista

A encefalopatia traumática crônica (ETC), também conhecida como “demência do pugilista”, é uma doença neurodegenerativa que surge após repetidos impactos na cabeça. Embora frequentemente associada a atletas de combate, como boxeadores (Maguila, Éder Jofre e Muhammad Ali), a ETC não se restringe a eles. 

Os sintomas típicos incluem tonturas e dores de cabeça crônicas. Além disso, a doença pode afetar as funções mentais, resultando em perda de memória e dificuldade de raciocínio. Problemas motores também são comuns, como lentidão, rigidez muscular, alterações na fala e desequilíbrio. 

As alterações comportamentais ligadas à condição podem incluir depressão, ansiedade, agressividade, impulsividade e até paranoia.

Demência com Corpos de Lewy

Na Demência com Corpos de Lewy, há o acúmulo de depósitos anormais de uma proteína chamada “corpos de Lewy” dentro das células nervosas. Este tipo de demência está frequentemente associado à Doença de Parkinson e, atualmente, não tem cura. 

O sintoma mais comum é a perda de memória, que pode ocorrer com flutuações no estado cognitivo. Ou seja, o paciente pode apresentar períodos de melhora e piora repentinos. Alucinações visuais, olfativas e auditivas também são comuns.

Quais são os primeiros sintomas de demência?

Os primeiros sinais de demência podem ser sutis e variar de pessoa para pessoa. Um dos sintomas mais comuns são os lapsos de memória recente, como a dificuldade em lembrar de conversas ou eventos que aconteceram há pouco tempo. Outro sinal frequente é a repetição de perguntas ou de histórias, como se o paciente não se lembrasse de tê-las feito anteriormente. 

Além disso, a pessoa pode apresentar: 

  • Dificuldade para acompanhar conversas ou encontrar as palavras certas; 
  • Desorientação em relação ao tempo e ao espaço; 
  • Alterações no comportamento, como irritabilidade ou mudanças no humor; 
  • Suspeitas ou desconfianças injustificadas; 
  • Tendência ao isolamento social; 
  • Comprometimento da capacidade de planejamento e concentração. 

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico da demência começa geralmente durante a consulta médica, que pode ser conduzida por um geriatra, neurologista ou médico de família. Durante essa consulta, o profissional realiza uma anamnese, que é uma conversa com o paciente e seus familiares para entender as queixas, o início dos sintomas e o histórico de saúde do paciente. 
Além disso, o médico realiza um exame físico e aplica testes neuropsicológicos para avaliar funções cerebrais, como memória, atenção e linguagem. Com base nas informações coletadas, ele formula uma hipótese diagnóstica e solicita uma série de exames complementares.

Quais exames podem ser solicitados?

Os exames solicitados têm dois objetivos principais: excluir outras condições com sintomas semelhantes e identificar alterações no cérebro que possam indicar um tipo específico de demência. Os exames mais comuns incluem:

  • Exames de sangue: para descartar causas reversíveis de demência, como deficiência de vitamina B12, problemas na tireoide ou distúrbios metabólicos; 
  • Exames de imagem: a tomografia computadorizada (TC) ou a ressonância magnética (RM) do crânio podem identificar atrofias em áreas específicas do cérebro ou sinais de lesões vasculares, como infartos ou microangiopatia; 
  • PET amiloide: exame de imagem avançado que detecta o acúmulo da proteína beta-amiloide no cérebro. Esse exame é utilizado como um indicador complementar no diagnóstico da Doença de Alzheimer; 
  • Punção de líquor: a coleta do líquido cefalorraquidiano (LCR) é feita por punção lombar, na região inferior da coluna vertebral, para medir biomarcadores associados ao Alzheimer e outras formas de demência; 
  • Painel genético (NGS): em alguns casos, o sequenciamento genético pode identificar mutações associadas a formas hereditárias de demência, como as doenças frontotemporais ou a Doença de Huntington; 
  • Exame de sangue para risco de Alzheimer: exame recente que mede os níveis de proteínas beta-amiloide no sangue, ajudando a estimar o risco de desenvolvimento da Doença de Alzheimer. 

Como é feito o tratamento?

Atualmente, a maioria das demências, incluindo a Doença de Alzheimer, não tem cura. No entanto, existem várias opções de tratamento para controlar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. O tratamento é geralmente multidisciplinar, envolvendo uma equipe de profissionais de diferentes áreas. 

No tratamento medicamentoso, as opções são:

  • Anticolinesterásicos (como rivastigmina, galantamina e donepezila), que são usados para aliviar os sintomas cognitivos; 
  • Memantina, que também pode ser utilizada para ajudar no controle dos sintomas cognitivos. 

Mais recentemente, uma nova classe de medicamentos, os anticorpos monoclonais, como o donanemabe (Kisunla), foi aprovada. Esses medicamentos atuam removendo as placas de proteína beta-amiloide do cérebro, ajudando a retardar a evolução da doença, especialmente nos estágios iniciais. 

O tratamento não medicamentoso envolve abordagens como: 

  • Reabilitação cognitiva, para ajudar a preservar as funções cognitivas; 
  • Fisioterapia e terapia ocupacional, para melhorar a mobilidade e a capacidade de realizar atividades diárias; 
  • Acompanhamento nutricional e psicológico, fundamentais para o bem-estar geral. 

Manter hábitos de vida saudáveis, como atividade física regular e alimentação equilibrada e nutritiva, também é parte do cuidado integral do paciente. 

Vale mencionar que, em alguns casos, a demência pode ser reversível. Isso ocorre em fases iniciais, quando a síndrome é causada por condições específicas. Ao tratar problemas como a deficiência de vitamina B12 ou disfunções da tireoide (tanto o excesso quanto a falta de hormônios), os sintomas podem melhorar. O controle da pressão alta, dos níveis de colesterol e da glicemia também pode contribuir para uma possível reversão.

Fonte: Dra. Niedja Tsuno – Neurorradiologista