Confusão mental: o que pode ser e como tratar 

Confusão mental: o que pode ser e como tratar 

A confusão mental afeta a nossa capacidade de pensar com clareza, perceber o ambiente de forma adequada e manter a atenção.

Trata-se de uma manifestação que pode ter causas benignas e transitórias, mas também pode indicar condições médicas ou neurológicas graves, especialmente quando surge de forma súbita. Siga a leitura e conheça mais sobre a condição. 

O que é confusão mental?

A confusão mental é uma alteração no estado de consciência, com prejuízo da atenção, da orientação temporal e espacial, e da capacidade de processar informações. Frequentemente, a pessoa apresenta dificuldade para se concentrar, manter o raciocínio lógico e tomar decisões cotidianas. 

Uma forma mais aguda e grave é o delirium, uma síndrome neuropsiquiátrica caracterizada por instalação rápida (em horas ou dias), curso flutuante e declínio global das funções cognitivas. O delirium costuma se agravar no período noturno e demanda atenção médica imediata. 

Quais são os sintomas que acompanham a confusão mental?

Os principais sinais de confusão mental são:

  • Desatenção e desorientação (temporal, espacial ou em relação a pessoas);
  • Déficits de memória recente; 
  • Fala incoerente ou desconexa; 
  • Dificuldade para compreender ou manter conversas; 
  • Alterações comportamentais, como agitação, agressividade, apatia ou euforia; 
  • Ciclo sono-vigília invertido; 
  • Presença de alucinações visuais ou auditivas; 
  • Emoções intensas e desproporcionais, como medo, raiva ou tristeza profunda. 

O que causa confusão mental?

As causas mais frequentes são infecções agudas, como pneumonia e infecção urinária. Elas são especialmente comuns em idosos e, talvez por isso, muita gente imagine que confusões mentais são parte normal do envelhecimento. Mas isso não é verdade.   
 
Infecções virais sistêmicas como a gripe e a covid-19 também são causas de desorientação em idosos. Mas há outros fatores que podem causar confusão mental: 

  • Distúrbios metabólicos, como hiponatremia, hipoglicemia ou insuficiência hepática (encefalopatia hepática);
  • Acidente vascular cerebral (AVC);
  • Neoplasias cerebrais;
  • Desidratação severa;
  • Efeitos colaterais de medicamentos (ansiolíticos, hipnóticos, opioides);
  • Abstinência ou intoxicação por álcool ou drogas psicoativas;
  • Distúrbios respiratórios e cardíacos com hipóxia cerebral;
  • Estados pós-operatórios com anestesia geral;
  • Privação de sono, dor crônica ou estresse emocional intenso.

Quando a confusão mental é um sinal de alerta?

Toda confusão mental de início súbito, especialmente em idosos, deve ser considerada uma emergência médica. Se estiver associada a febre, cefaleia intensa, déficit motor ou crises convulsivas, o atendimento deve ser imediato.

A rápida investigação e correção da causa subjacente aumentam significativamente as chances de reversão completa.

Doenças que causam confusão mental

As Infecções são uma causa clássica. Dentre elas, pneumonia e infecção do trato urinário são muito comuns, principalmente em pessoas mais velhas. A Covid-19, infecção pelo coronavírus, também pode causar confusão mental aguda.

Além disso, algumas doenças neurológicas e sistêmicas estão frequentemente associadas ao sintoma:

  • Encefalopatia hepática: acúmulo de toxinas (como amônia) no cérebro por falência hepática;
  • AVC isquêmico ou hemorrágico: interrupção da circulação cerebral com instalação aguda de déficits neurológicos;
  • Tumores cerebrais: podem comprimir áreas relacionadas à cognição e ao comportamento.

Existe diferença entre confusão mental e névoa mental?

Sim. A confusão mental (especialmente o delirium) é uma condição aguda, com prejuízo importante da consciência e desorganização do pensamento.

Já a névoa mental (“brain fog”) é uma queixa subjetiva de lentificação cognitiva, sensação de estar “desligado” ou “com a mente embotada”, comum em quadros como fadiga crônica, ansiedade, depressão e Covid longa.

A diferença está na intensidade, na duração e na gravidade. No brain fog, a pessoa mantém orientação e consciência, embora sinta dificuldades para focar e se lembrar.

Diferenças entre confusão mental e demência

A principal diferença está na velocidade de instalação e na flutuação dos sintomas. A confusão mental aguda (delirium) começa de repente. A demência, por outro lado, se desenvolve de forma lenta e progressiva. Vamos analisar ponto por ponto a seguir.

  • Início: o delirium é súbito (horas ou dias) e a demência é gradual (meses ou anos).
  • Atenção: no delirium, a desatenção é o sintoma principal. Na demência, a perda de memória costuma ser mais proeminente no início.
  • Flutuação: os sintomas do delirium mudam muito ao longo do dia. Na demência, o estado da pessoa tende a ser mais estável.
  • Reversibilidade: o delirium geralmente é reversível quando sua causa é tratada. A maioria das demências, como o Alzheimer, não tem cura e piora com o tempo.

Vale ainda mencionar que uma pessoa com demência tem um risco maior de desenvolver delirium. Um episódio de delirium pode, inclusive, piorar o quadro de demência.

Como é feito o diagnóstico da confusão mental?

O diagnóstico começa na avaliação médica, e isso inclui a conversa com o paciente e com familiares ou cuidadores. Para diferenciar o delirium de outras condições, o médico realiza um exame físico e neurológico. Atenção, orientação e memória são avaliadas.

Em seguida, exames de sangue e urina costumam ser solicitados. Eles ajudam a identificar infecções, desidratação e desequilíbrios químicos no corpo. Já os de imagem – como tomografia computadorizada ou ressonância magnética do cérebro – podem ser pedidos se houver suspeita de AVC, sangramento ou tumor.

Eletrocardiograma (para checar o coração) e radiografia de tórax (para buscar pneumonia) também podem fazer parte da investigação.

A exclusão de causas agudas e tratáveis é essencial, assim como a distinção entre delirium, demência, transtornos psiquiátricos e intoxicações.

Qual o tratamento para confusão mental?

O objetivo do tratamento é corrigir o problema que está afetando o cérebro. Se uma infecção é a culpada, o uso de antibióticos é a prioridade. Se a causa for a desidratação, a reposição de líquidos é o caminho.  

Enquanto a causa é tratada, medidas de suporte ajudam a manter a pessoa segura e calma. Entre elas, podemos mencionar: 

  • Suspender ou trocar remédios que possam estar causando ou piorando a confusão.
  • Manter o quarto bem iluminado durante o dia e silencioso à noite. 
  • Garantir que a pessoa esteja bem alimentada e hidratada. 
  • A companhia de rostos conhecidos ajuda a pessoa a se sentir mais segura e orientada. 
  • Garantir que a pessoa consiga ver e ouvir bem, o que ajuda a reduzir a desorientação. E aqui falamos do uso de óculos e aparelhos auditivos. 
  • Correção de déficits sensoriais (uso de óculos, aparelhos auditivos); 
  • Evitar contenções físicas e uso de sedativos, a não ser que haja risco à segurança. 

Como lidar com a confusão mental?

Isso depende se é você que está sentindo os sintomas ou alguém que está precisando da sua ajuda.

Se você está se sentindo confuso

Sentir o próprio pensamento “nublado” pode gerar ansiedade. Evite o pânico: acolha o sintoma e busque ajuda médica.

Se os sintomas forem intensos e súbitos, vá a um pronto-socorro. Se forem mais leves e persistentes, agende uma consulta com um clínico ou neurologista. Leve tudo que vem sentido anotado, além da relação de todos os medicamentos que você usa.

Converse com familiares ou amigos de confiança sobre o que está sentindo. O apoio deles é importante.

Se você está cuidando de alguém confuso

Sua calma e atitude podem diminuir a ansiedade de uma pessoa confusa, além de garantir a segurança dela. Aproxime-se da pessoa de maneira tranquila, use frases curtas e simples. Chame-a pelo nome.

Lembre-a gentilmente sobre onde ela está, que dia é e quem você é. Um relógio e um calendário visíveis no ambiente podem ajudar.

Não discuta nem confronte. Redirecione a conversa para um assunto real e concreto, evitando discutir ideias delirantes.

Deixe o local bem iluminado durante o dia e mais escuro à noite. Retire objetos que possam causar quedas ou acidentes, como tapetes e objetos cortantes.

E o mais importante: leve a pessoa para uma avaliação médica o quanto antes. Explique para a equipe de saúde o que você observou e leve a lista de remédios que ela usa.

Fonte: Dr. Diogo Haddad, neurologista e Dr. Diogo Goulart Correa, neurorradiologista