Câncer colorretal: entenda os sintomas, as causas e os tratamentos

Câncer colorretal: entenda os sintomas, as causas e os tratamentos

O câncer colorretal é um dos tumores mais comuns no Brasil. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), são esperados mais de 45 mil novos diagnósticos por ano no país entre 2023 e 2025.  

Esse aumento, especialmente notado em pessoas mais jovens, tem prováveis ligações com o estilo de vida moderno. Fatores como a alta ingestão de alimentos ultraprocessados, o sedentarismo e até mesmo as alterações que essa rotina causa na microbiota intestinal são apontados por especialistas como possíveis causas.  

Apesar desse cenário, o prognóstico para quem enfrenta o câncer colorretal tem melhorado significativamente. E essa evolução positiva se deve, em grande parte, aos avanços nas técnicas cirúrgicas, que se tornaram mais precisas e eficazes.  

O que é câncer colorretal?

O câncer colorretal, conhecido também como câncer de intestino, é um tumor que atinge o intestino grosso, uma parte do sistema digestivo.

Ele pode se desenvolver no cólon (a maior parte do intestino grosso) ou o reto (a porção final, que se conecta ao ânus). Por isso, o nome “colorretal”.  

A principal função dessa região do corpo é absorver água e sais minerais dos alimentos digeridos e participar da formação das fezes. 

Na grande maioria das vezes, a história desse câncer não começa com um tumor maligno, mas com o surgimento de pólipos, ou seja, lesões benignas parecidas com pequenas verrugas na parede interna do intestino. 

Com o passar do tempo, se não forem identificados e removidos, alguns desses pólipos podem sofrer alterações em suas células e se transformar em câncer.  

Esse processo pode levar anos para acontecer, o que reforça a grande janela de oportunidade para a prevenção e o diagnóstico precoce. 

Quais são os sintomas de câncer de intestino (colorretal)? 

Muitas vezes, os primeiros sinais da doença são sutis e podem ser confundidos com problemas digestivos rotineiros. Mas, os sintomas mais frequentes são a presença de sangue nas fezes, visível ou não, e mudanças inexplicadas nos hábitos intestinais, como uma diarreia ou prisão de ventre que não passam.  

Desconforto abdominal, como gases e cólicas persistentes, também são sinal de alerta. 

Além disso, conforme a doença avança, outros sinais podem aparecer: 

  • Sensação de que o intestino não se esvaziou completamente, mesmo depois de ir ao banheiro. 
  • Fezes que se tornam mais finas, escuras ou com formato e consistência diferentes do usual. 
  • Perda de peso sem motivo aparente. 
  • Cansaço e fraqueza constantes. 
  • Anemia sem causa definida, que pode ser identificada em um exame de sangue de rotina. 
  • Náuseas e vômitos. 
  • Dor na região anal, especialmente ao tentar evacuar. 

Quais são os tipos de câncer colorretal?

Quando se fala em câncer colorretal, a grande maioria dos diagnósticos — mais de 95% deles — se refere a um tipo específico: o adenocarcinoma.  

Esse tipo de tumor surge nas células que revestem o interior do cólon e do reto, responsáveis pela produção de muco, uma substância que ajuda a lubrificar a passagem das fezes. 

Embora mais raros, existem outros tipos de tumores que podem se desenvolver na região, como: 

  • Tumores carcinoides: começam em células especiais produtoras de hormônios no intestino. 
  • Tumores estromais gastrointestinais (GIST): desenvolvem-se em células específicas na parede do cólon conhecidas como células intersticiais de Cajal. 
  • Linfomas: são cânceres do sistema imunológico que, embora mais comuns nos gânglios linfáticos, podem raramente começar no cólon ou no reto. 
  • Sarcomas: surgem em tecidos moles, como músculos, na parede do cólon. 

O que causa câncer colorretal?

Não existe uma causa única para o câncer colorretal, mas sim uma combinação de fatores de risco que aumentam a probabilidade de uma pessoa desenvolver a doença.  
 
Os mais importantes são a idade, já que o risco aumenta significativamente após os 50 anos, e o histórico pessoal ou familiar da doença. Ter parentes de primeiro grau (pais, irmãos ou filhos) que tiveram câncer de intestino (colorretal) ou pólipos aumenta consideravelmente o risco. 

Além desses, outros fatores ligados ao estilo de vida e a condições de saúde também desempenham um papel importante. E eles seriam: 

  • Alimentação pobre em fibras (frutas, vegetais e grãos integrais) e rica em carnes vermelhas e alimentos ultraprocessados (como salsicha, linguiça, presunto e bacon). 
  • Sedentarismo. 
  • Excesso de peso. 
  • Fumar e consumir bebidas alcoólicas em excesso. 
  • Doenças inflamatórias intestinais como a retocolite ulcerativa ou a doença de Crohn. 

Além disso, algumas condições hereditárias raras, como a Polipose Adenomatosa Familiar (FAP) e o Câncer Colorretal Hereditário Sem Polipose (HNPCC ou Síndrome de Lynch) predispõem fortemente ao desenvolvimento da doença. 

Como é feito o diagnóstico de câncer colorretal? 

O diagnóstico começa com uma boa conversa com o médico e o paciente. Então, se houver suspeita, o médico deve solicitar uma colonoscopia, procedimento que permite visibilizar todo o interior do cólon e do reto. 

Se o médico encontrar algum pólipo ou área suspeita, ele pode remover a lesão na mesma hora ou coletar uma pequena amostra de tecido para análise em laboratório. A biópsia permite confirmar se as células são benignas ou malignas. 

Mas outros exames podem ser solicitados, até mesmo antes da colonoscopia. E alguns exemplos são: 

  • Pesquisa de sangue oculto nas fezes: pode detectar pequenas quantidades de sangue nas fezes, invisíveis a olho nu. Um resultado positivo geralmente indica a necessidade de uma colonoscopia. 
  • Sigmoidoscopia flexível: similar à colonoscopia, mas examina apenas a parte final do intestino grosso (o reto e o cólon sigmoide). 
  • Cápsula endoscópica: usado principalmente para visualizar o intestino delgado, uma região de difícil acesso para a colonoscopia e a endoscopia tradicional. Nele, o paciente engole uma pequena cápsula com uma câmera que tira milhares de fotos enquanto percorre o sistema digestivo. 

Depois da confirmação do câncer pela biópsia, exames como tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM) podem ser usados para verificar o tamanho do tumor e se ele se espalhou para outras partes do corpo. 

Qual é o tratamento para a doença? 

A definição do tratamento para o câncer colorretal depende da localização do tumor e do estágio da doença. A principal modalidade de tratamento, especialmente para tumores localizados, é a cirurgia para a remoção da parte doente do intestino.  

Frequentemente, a quimioterapia e a radioterapia também são usadas, seja para reduzir o tamanho do tumor antes da cirurgia ou para eliminar células cancerígenas remanescentes após o procedimento. 

Dependendo das características do tumor e se ele estiver em um estágio mais avançado, outras opções de tratamento podem ser indicadas: 

  • Terapia-alvo: usa medicamentos que atacam especificamente pontos fracos das células cancerígenas, interferindo em seu crescimento e disseminação, com menos danos às células normais. 
  • Imunoterapia: estimula o próprio sistema imunológico do paciente a reconhecer e destruir as células do câncer. É uma opção principalmente para tumores com características genéticas específicas. 

É possível prevenir esse tipo de câncer?

Sim, o câncer colorretal é altamente prevenível, e as estratégias se baseiam em mudanças no estilo de vida e na realização de exames de rastreamento.

Mudanças no estilo de vida

Adotar hábitos saudáveis no dia a dia é uma forma poderosa de reduzir o risco. E as recomendações seriam: 

  • Manter uma alimentação rica em fibras, com muitas frutas, verduras, legumes e grãos integrais. 
  • Limitar o consumo de carne vermelha e evitar carnes processadas. 
  • Praticar atividade física regularmente (a recomendação geral é de 150 a 300 minutos por semana). 
  • Manter um peso saudável. 
  • Não fumar. 
  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas. 

Rastreamento

Como o câncer colorretal quase sempre se desenvolve a partir de pólipos, os exames de rastreamento são essenciais. Eles permitem encontrar e remover essas lesões antes que tenham a chance de se tornarem malignas.  

A recomendação atual é que a população geral, sem fatores de risco elevados, inicie o rastreamento entre 45 e 50 anos. Para pessoas com histórico familiar da doença ou outras condições de risco, o início deve ser mais cedo, conforme orientação médica. 

Uma vacina promissora em estudo

Uma nova vacina, chamada ELI-002 2P, apresentou resultados positivos e promissores em pacientes com câncer colorretal e de pâncreas, segundo um estudo publicado na revista Nature Medicine.  

O imunizante, desenvolvido por cientistas da Universidade da Califórnia (UCLA), mostrou potencial para estimular respostas imunológicas duradouras, o que poderia prevenir ou reduzir a chance de a doença voltar em pacientes de alto risco. 

A pesquisa focou em tumores ligados a mutações no gene KRAS, que estão presentes em cerca de 50% dos casos de câncer colorretal. Diferente de outras vacinas que precisam ser personalizadas para cada paciente, a ELI-002 2P é um produto padronizado e “pronto para uso”.  

A ELI-002 2P foi projetada para treinar o sistema imunológico a identificar e atacar as células cancerígenas de forma ampla.  

O ensaio clínico inicial acompanhou 25 pacientes (cinco com câncer colorretal) que já haviam passado por cirurgia, mas ainda apresentavam sinais de doença residual. Os resultados foram tão encorajadores que a próxima etapa será um estudo de fase 2 em maior escala. 

Fonte: Dr. Ricardo Dib, médico gastroenterologista