APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca): Sintomas e Diagnósticos
A APLV (alergia à proteína do leite de vaga) é uma das principais causas de alergia alimentar em bebês e crianças pequenas: dados da Sociedade Europeia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN), por exemplo, indicam que 2 a 3% das crianças menores de 3 anos têm APLV.
No Brasil, estima-se que a incidência de APLV em crianças com idade menor ou igual a 24 meses seja de 2,2%. Embora frequentemente confundida com a intolerância à lactose, a APLV envolve mecanismos imunológicos distintos do corpo e, portanto, pede outra abordagem médica para ser tratada. Conheça mais sobre ela a seguir.
O que é APLV (Alergia à Proteína do Leite de Vaca)?
APLV é a sigla para “alergia à proteína do leite de vaca”. Essa condição ocorre quando o sistema imunológico identifica erroneamente as proteínas do leite de vaca como substâncias nocivas para o organismo. As principais proteínas envolvidas nas reações alérgicas são a caseína, a alfa-lactoalbumina e a beta-lactoglobulina.
Essas reações podem ser imediatas, mediadas por anticorpos do tipo IgE; tardias, geralmente mediadas por células; e ainda possuem alguns mecanismos pouco conhecidos em algumas reações, mas todos com envolvimento imunológico.
Esta, aliás, é a principal diferença entre APLV e intolerância à lactose: nessa condição, os sintomas são desencadeados pela dificuldade na digestão do açúcar (lactose) causada pela deficiência da enzima responsável (lactase), sem existir qualquer envolvimento do sistema imunológico no surgimento dos sintomas.
A APLV afeta principalmente bebês e costuma evoluir de forma benigna, podendo persistir até a vida adulta em alguns casos.
Causas da APLV
A APLV é desencadeada por uma resposta imunológica anormal à presença da proteína do leite de vaca após a sua ingestão.
Essa resposta, por sua vez, pode ser influenciada por fatores genéticos, ambientais e até mesmo pela composição do microbioma intestinal do indivíduo.
Embora os médicos ainda não saibam exatamente o que causa o problema, sabe-se que a exposição precoce ao leite de vaca, especialmente em bebês com histórico familiar de alergias, pode aumentar o risco de desenvolvimento da APLV.
Sintomas da APLV: como identificar?
Os sintomas da APLV podem variar de acordo com a intensidade da reação alérgica. Alguns pacientes terão apenas sintomas leves, como urticária; enquanto outros podem desenvolver reações graves –como choque anafilático– e precisarem de atendimento médico imediato.
Felizmente, esse extremo é considerado um quadro raro. Os sintomas mais comuns de APLV são:
- Reações cutâneas: urticária, eczema, inchaço dos lábios e pálpebras;
- Sintomas gastrointestinais: vômitos, diarreia, cólicas, refluxo, sangue nas fezes;
- Sintomas respiratórios: chiado no peito, tosse, falta de ar (em casos graves);
- Sintomas gerais: irritabilidade, choro excessivo, dificuldade para ganhar peso.
Diagnóstico e exames para APLV
O diagnóstico de APLV é realizado por um médico com base na avaliação clínica, no histórico de saúde e alimentar do paciente e em testes complementares específicos.
O padrão-ouro para a detecção da APLV é o teste de provocação oral (TPO). O processo do TPO vai ser determinado pela característica da reação suspeitada. Na maioria das vezes, ele deve ser feito em ambiente hospitalar, com a supervisão de um médico treinado para identificar e tratar a reação caso ela ocorra. Nas reações tardias, a depender do caso, o exame poderá ser feito em casa, mas sempre com a orientação de um médico especialista.
Além do TPO, outros exames que podem auxiliar no diagnóstico de APLV são a dosagem de IgE específico para proteínas do leite (feito por meio de exame de sangue) e testes cutâneos feitos para avaliar a sensibilidade da pele à proteína do leite.
Tratamento para APLV
O tratamento para APLV consiste na retirada do alérgeno, no caso, o leite e seus derivados. Atualmente, sabe-se que, dependendo do tipo de reação alérgica, alguns pacientes conseguem tolerar formas processadas do leite ou até traços da proteína.
Por isso, a restrição deve ser individualizada e sempre orientada por um médico especialista, com o acompanhamento de um nutricionista nos casos mais complexos.
Existem ainda outros tratamentos, como dessensibilização e imunoterapia específica para os casos mais persistentes e graves.
Em todos os casos, é fundamental que a criança seja acompanhada por um médico especialista e com experiência em alergia alimentar. Os pais devem ser orientados durante todo o processo de retirada e reintrodução do leite de vaca. E, nos casos mais graves, esses cuidadores precisam ser treinados a reconhecer e tratar os sintomas imediatamente.
APLV tem cura?
Sim, a APLV pode se curar de forma espontânea. Estima-se que 50% dos bebês diagnosticados com APLV superem o problema após um ano e 75% dos diagnósticos regridem de forma espontânea após três anos.
Vale reforçar que é importante ter o acompanhamento médico durante todas as etapas: descoberta da alergia, retirada e reintrodução do leite de vaca.
Qual especialista procurar?
Geralmente, o atendimento inicial e acompanhamento do problema é realizado pelo pediatra responsável por atender a criança. Este pode encaminhar a família para alergistas ou gastroenterologistas, médicos especialistas em condições como a APLV.
Em casos de dúvidas sobre a alimentação, um nutricionista especializado em crianças também pode ajudar na elaboração de um plano alimentar seguro e nutritivo.
Como lidar e prevenir a APLV
Para lidar com a APLV, é importante analisar atenção os rótulos dos alimentos industrializados para evitar o consumo acidental de leite de vaca e derivados.
Além disso, em ambientes como escolas e festas infantis, é importante informar cuidadores e professores sobre a condição da criança para garantir que ela não consuma algo e passe mal depois.
Sobre prevenção, ainda não existem maneiras cientificamente comprovadas de prevenir a APLV. Mesmo assim, os médicos recomendam a não exposição precoce ao leite de vaca e derivados (pois isso pode sensibilizar o sistema imunológico do bebê); e manter, sempre que possível, o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida, contribuindo para o desenvolvimento saudável do sistema imunológico e do microbioma intestinal – o que reduz o risco de alergias alimentares.
Dra. Ligia Maria de Oliveira Machado, médica especialista em alergia e imunologia da Dasa